Hoje demos continuidade as atividades de reconhecimento da UBS iniciadas na semana passada. Acompanhei uma senhora em seus atendimentos que referiu estar passando mau ( tontura e febre). Ela relatou que tinha ido no HU dois dias antes, mas que precisava de um atestado para o dia seguinte, pois não teria condições de trabalhar. Durante a conversa ela disse que trabalhava na limpeza da Faculdade de Letras na USP.
Primeiramente ela fez alguns exames com a auxiliar de enfermagem ( temperatura, PA, frequência cardíaca e respiratória), no qual foi constatado que ela estava com febre. Em seguida ela esperou para ser atendida pela enfermeira. Acompanhei a consulta de enfermagem, que colheu informações sobre o motivo da ida dela a UBS, perguntou o que ela estava sentindo e foram feitos mais alguns exames. Posteriormente, ela foi encaminhada para a consulta médica, que a enfermeira informou que poderia demorar um pouco.
Enquanto esperava conversei bastante com ela, ela me contou principalmente de seu trabalho. Após alguns minutos passou uma moça por nós e disse pra mim que era muito duro não saber ler ( nessa hora a senhora que eu estava acompanhando disse que também não sabia ler). Depois de um tempo acompanhei um atendimento da assistente social, que coincidentemente era com a moça que havia passado minutos antes por mim e referido não saber ler. Ela estava com dificuldades para fazer o bilhete único gratuito ( pois tinha um deficiência visual em um olho e, portanto, tinha direito a esse benefício). Também relatou ter muito papel em casa, pois como não sabia ler guardava tudo para o caso de algum ser muito importante.
A partir do contato com essas duas pessoas pude refletir sobre como a realidade que estamos entrando em contato é diferente da nossa. Também ficou muito evidente para mim a defasagem da educação pública no país e a falta de oportunidades que as pessoas de classe social mais baixa enfrentam. Considero a UBS um serviço muito importante, inclusive para lidar com temas como esse e fazer intersecções com outros serviços/ equipamentos do território. Ter saúde também é ter direito a um sistema educacional de qualidade, poder acessar equipamentos culturais, ter espaços de lazer e esporte para frequentar etc. Claro que não cabe a saúde se responsabilizar por tudo isso diretamente, dai a importância da criação de uma rede de serviços que integre equipamentos de saúde educação, lazer, cultura, esportes etc.
Nicole,
ResponderExcluirGostei muito da parte que você mesma destacou do seu post. Fiquei pensando em duas coisas: uma que é a concepção de saúde, que pode ser vista de uma maneira muito ampla, não só em seus aspectos biológicos, mas também em sua determinação social; outra é que existe um campo político e social da saúde, que influencia e é influenciado por outros campos, como o da educação. Acho que mais do que não que caber a saúde se responsabilizar por todo o resto, seria problemático submeter todas as outras esferas da vida à saúde, porque são de naturezas diferentes e porque, com isso, haveria o risco de o campo da saúde servir como um mecanismo de controle sobre a vida.
O que você(s) pensam?
Até,
Miguel
Em relação ao campo de saúde servir como um mecanismo de controle sobre a vida, acho que isso de certa forma já acontece. O fato da UBS ter um contato tão próximo com a família, ter esse acompanhamento longitudinal dos casos e fazer visita domiciliar, por exemplo, demonstra isso. Já me questionei algumas vezes sobre o quão invasivo pode ser alguém entrar na sua casa, ter contato direto com o contexto que você vive para fazer intervenções. Claro que isso também é fundamental para a efetividade das intervenções e tratamento, mas não deixa de ser uma forma de controle.
ResponderExcluirConcordo com a sua colocação sobre submeter todas as outras esperas da vida à saúde e acho que elas realmente devem ser vistas em âmbitos diferentes. Mas partindo do principio de que a saúde deve ser considerada de forma bio-psico-social e que todas essas outras esferas mencionadas interferem na saúde, é possível que a UBS faça articulação com esses outros equipamentos, de forma a garantir melhores condições de vida para a pessoa que está sendo atendida.
Parabéns, vocês estão discutindo saúde de forma bastante ampla e avançada!
ResponderExcluirComo vocês disseram, é realmente importante avaliar a saúde de forma abrangente, e não só fisiológica, mas também deve-se tomar o cuidado para não medicalizar questões sociais, que não necessitam de tratamento médico ou investigação diagnóstica.