segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Nicole - 05/10

Hoje demos continuidade as atividades de reconhecimento da UBS iniciadas na semana passada. Acompanhei uma senhora em seus atendimentos que referiu estar passando mau ( tontura e febre). Ela relatou que tinha ido no HU dois dias antes, mas que precisava de um atestado para o dia seguinte, pois não teria condições de trabalhar. Durante a conversa ela disse que trabalhava na limpeza da Faculdade de Letras na USP.

Primeiramente ela fez alguns exames com a auxiliar de enfermagem ( temperatura, PA, frequência cardíaca e respiratória), no qual foi constatado que ela estava com febre. Em seguida ela esperou para ser atendida pela enfermeira. Acompanhei  a consulta de enfermagem, que colheu informações sobre o motivo da ida dela a UBS, perguntou o que ela estava sentindo e foram feitos mais alguns exames. Posteriormente, ela foi encaminhada para a consulta médica, que a enfermeira informou que poderia demorar um pouco.

Enquanto esperava conversei bastante com ela, ela me contou principalmente de seu trabalho. Após alguns minutos passou uma moça por nós e disse pra mim que era muito duro não saber ler ( nessa hora a senhora que eu estava acompanhando disse que também não sabia ler). Depois de um tempo acompanhei um atendimento da assistente social, que coincidentemente era com a moça que havia passado minutos antes por mim e referido não saber ler. Ela estava com dificuldades para fazer o bilhete único gratuito ( pois tinha um deficiência visual em um olho e, portanto, tinha direito a esse benefício). Também relatou ter muito papel em casa, pois como não sabia ler guardava tudo para o caso de algum ser muito importante. 

A partir do contato com essas duas pessoas pude refletir sobre como a realidade que estamos entrando em contato é diferente da nossa. Também ficou muito evidente para mim a defasagem da educação pública no país e a falta de oportunidades que as pessoas de classe social mais baixa enfrentam. Considero a UBS um serviço muito importante, inclusive para lidar com temas como esse e fazer intersecções com outros serviços/ equipamentos do território. Ter saúde também é ter direito a um sistema educacional de qualidade,  poder acessar equipamentos culturais, ter espaços de lazer e esporte para frequentar etc. Claro que não cabe a saúde se responsabilizar por tudo isso diretamente, dai a importância da criação de uma rede de serviços que integre equipamentos de saúde  educação, lazer, cultura, esportes etc.

3 comentários:

  1. Nicole,

    Gostei muito da parte que você mesma destacou do seu post. Fiquei pensando em duas coisas: uma que é a concepção de saúde, que pode ser vista de uma maneira muito ampla, não só em seus aspectos biológicos, mas também em sua determinação social; outra é que existe um campo político e social da saúde, que influencia e é influenciado por outros campos, como o da educação. Acho que mais do que não que caber a saúde se responsabilizar por todo o resto, seria problemático submeter todas as outras esferas da vida à saúde, porque são de naturezas diferentes e porque, com isso, haveria o risco de o campo da saúde servir como um mecanismo de controle sobre a vida.

    O que você(s) pensam?

    Até,
    Miguel

    ResponderExcluir
  2. Em relação ao campo de saúde servir como um mecanismo de controle sobre a vida, acho que isso de certa forma já acontece. O fato da UBS ter um contato tão próximo com a família, ter esse acompanhamento longitudinal dos casos e fazer visita domiciliar, por exemplo, demonstra isso. Já me questionei algumas vezes sobre o quão invasivo pode ser alguém entrar na sua casa, ter contato direto com o contexto que você vive para fazer intervenções. Claro que isso também é fundamental para a efetividade das intervenções e tratamento, mas não deixa de ser uma forma de controle.

    Concordo com a sua colocação sobre submeter todas as outras esperas da vida à saúde e acho que elas realmente devem ser vistas em âmbitos diferentes. Mas partindo do principio de que a saúde deve ser considerada de forma bio-psico-social e que todas essas outras esferas mencionadas interferem na saúde, é possível que a UBS faça articulação com esses outros equipamentos, de forma a garantir melhores condições de vida para a pessoa que está sendo atendida.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns, vocês estão discutindo saúde de forma bastante ampla e avançada!
    Como vocês disseram, é realmente importante avaliar a saúde de forma abrangente, e não só fisiológica, mas também deve-se tomar o cuidado para não medicalizar questões sociais, que não necessitam de tratamento médico ou investigação diagnóstica.

    ResponderExcluir