No dia 19 de Julho acompanhei a consulta de quatro usuárias. Não as observei desde a chegada, uma vez que as abordei na sala de espera.
A primeira paciente tem noventa anos e passou por uma consulta com a fisioterapeuta, por indicação do médico que a atendeu. Segunda ela, nunca havia passado em uma consulta com este tipo de profissional na UBS e veio pois ligaram para ela.
Apesar de nunca ter feito uma consulta com a fisio, a UBS é o serviço de referência para esta senhora.
Sua queixa inicial é de dores nos braços, ombros e de perda de equilíbrio, mas ela teve dificuldade de expor as mesmas em um primeiro momento, afirmando que estava tudo bem. Acredito que ela não se apropriou do motivo que levou o médico à encaminhá-la e isso dificulta que ela tenha clareza do porque está ali.
Na avaliação da profissional ela percebeu que a bengala da paciente estava muito alta e que isso possivelmente gerava as dores citadas. Orientou para que ela cortasse a bengala na medida que ela marcou e participasse do grupo de caminhadas. A paciente não quis participar do grupo, mas disse que participa de uma massagem em outra instituição que a ajuda muito.
Achei muito importante que além da queixa central foram abordadas outras temáticas essenciais para entendermos como é o contexto que esta senhora está inserida e como este pode gerar conseqüências em sua saúde.
Ela mora sozinha e não tem filhos, apenas um sobrinho que a auxilia quando ela precisa. A paciente tem problemas de visão e de audição, fatores agravantes para ela andar sozinha pelas ruas. A profissional pontuou isto para ele e explicou tudo que falava com clareza, cuidado essencial para que a senhora realmente entendesse o que ela estava querendo dizer. Considero este cuidado e a exploração do contexto da paciente como alicerces para um bom atendimento.
A segunda paciente tem dezessete anos e estava aguardando para se consultar com a dentista. Veio outras vezes se consultar com a mesma profissional e elogiou muito o serviço e a facilidade de marcar consultas com os outros profissionais. Esperou menos de dez minutos para ser atendida e se mostrou muito satisfeita com o tratamento que está tendo.
Afirma que a UBS é utilizada por toda sua família e que se não fosse o dentista do local ela não saberia como se tratar.
Senti que ela tem um carinho e um respeito grande pelo serviço, uma vez que é tratada com respeito e sua demanda é resolvida sem que tenha que esperar um grande período.
As outras duas consultas foram da enfermagem com gestantes. Uma paciente tem vinte e dois anos e a outra vinte. Fiquei impressionada que a faixa etária realmente é relativamente baixa, evidenciando reflexos do social na forma de viver e de constituir uma família.
A primeira paciente estava grávida pela primeira vez e com dúvidas esperadas para esta primeira experiência. Pareceu muito preocupada e acredito que as orientações dadas pela profissional foram muito importantes para diminuir a ansiedade da paciente. Já a segunda paciente, já tinha outro filho e sua ansiedade estava mais relacionada ao incomodo que sentia com a barriga e a vontade que o bebê nascesse logo. Esta paciente não fez os exames pedidos e deu a impressão que ela não vê a importância que os mesmos têm, mesmo que tenha sido explicado diversas vezes para ela.
Ambas estão de nove meses e a enfermeira incentivou que elas amamentassem seus filhos, também mediu a pressão, escutou o coração do bebê, pesou, entre outros procedimentos.
Foi uma experiência muito rica participar destas consultas e ver o retorno positivo dos pacientes em relação ao serviço. Acredito que as consultas são feitas por meio de um olhar biopsicossocial e que as questões orgânicas não são as únicas a serem vistas.
Neste mesmo dia também conheci o território que a UBS abrange. Olhar o território fez muito sentido para eu entender como há demandas muito diferentes, dependendo da região.
O lixo nas ruas apareceu em quase todo o território, caracterizando-se como um problema sério da região. Por meio desta visita e também com a experiência da aplicação dos inquéritos acredito que as noções de higiene são relacionadas à pobreza, mas também à não educação desta pessoas sobre a importância de manter o local onde vivem e seu entorno limpo. Justamente por isso, é uma situação que apenas mudará em longo prazo.
Como já mencionado, a heterogeneidade do território é muito marcante, uma vez que lugares de maior vulnerabilidade se misturam com casas de médio e alto padrão. Diante disso, como pensar em ações que abranjam estas diferentes demandas? Sem dúvida as demandas das áreas de maior vulnerabilidade são mais básicas e urgentes, mas temos que visar fazer um trabalho com todos e atendê-los de forma igual. Achei interessante algumas família com maior poder aquisitivo utilizarem a UBS, pois é um grande equívoco pensar que é um serviço apenas para as classes sociais com menores recursos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário