sexta-feira, 15 de março de 2013

Primeiro dia - primeiros contatos.


                                                                
No dia 8 de Março, fiz a primeira visita de reconhecimento á UBS. Embora já tivesse ido uma vez, não tinha circulado pelos setores e nem conversado com os funcionários acerca dos modos que os serviços eram realizados.
 O primeiro lugar visitado foi a farmácia, onde se entrega os medicamentos que constam na lista do SUS aos pacientes gratuitamente, e, pelo que percebi, onde é possível fazer uma espécie de controle do uso de medicamentos na assistência  de cada usuário, por meio de sistemas informatizados. Lá, a preceptora Cris nos contou,  para mim e a minha dupla, Thaís, do projeto amplo que está sendo realizado na UBS sobre a violência institucional lá presente, e a nossa parte em específico, que é a violência contra crianças, com particular enfoque na violência envolvendo gênero. Confesso que fiquei bem empolgada, já naquela hora pensamos nas possibilidades de pesquisa, referências, etc...
Depois, fomos ver rapidamente um grupo, acompanhado por uma psicóloga, de crianças com problemas na escola. Eram cerca de 10 meninos e meninas com idade de 8 a 12 anos, aproximadamente. Como infelizmente a visita foi bem rápida, não pude perceber tanto sobre o grupo, apesar de que, numa primeira impressão, pareceram crianças aparentemente típicas, com pequenas brincadeiras próprias de sua idade. Apenas uma delas me chamou a atenção, que acho justo comentar aqui. Um garoto de mais ou menos 11 ou 12 anos estava com um arranhão na altura da barriga, e puxava a camisa que estava vestindo, como que para mostra-lo.  Quando a psicóloga perguntou, em tom de brincadeira, como ele tinha se arranhado, ele respondeu, também rindo e com olhar convencido, que tinha sido arranhado pelas meninas, pois era ‘’gostoso’’ demais. O diálogo me chamou a atenção pela coincidência com o tema de nossa parte da pesquisa sobre violência entre crianças, a que envolve gênero. Pensei que a resposta do garoto era uma boa abertura para conversar sobre violência entre meninos e meninas, seus significados,  suas diferenças, aspectos sexuais dos pequenos conflitos lúdicos (especialmente nessa idade), etc... O tempo era corrido, mas de qualquer modo, já fiquei satisfeita em perceber que, a julgar por esse episódio, as crianças não estarão de todo fechadas para conversar sobre esses assuntos.
Depois, fomos de carro conhecer o território, mas fomos impedidos de continuar pela chuva forte. Acabamos vendo apenas a parte mais economicamente privilegiada do lugar. O que chamava  imediatamente a atenção era a gritante a desigualdade social no lugar, verdadeiras mansões perto de barracos, um colégio particular caro e enorme contrastando com o colégio público do bairro.  Alguns moradores dessas mansões são usuários cadastrados na UBS, mas são bem poucos, e boa parte deles, funcionários dessas casas que dormem lá. Era curioso o motorista já ter memorizado quem eram essas pessoas, suas respectivas casas e até suas profissões, de tão poucos.
Retornamos então á unidade e fui ver o serviço de agendamento de exames  e consultas especializadas.  A responsável me explicou que usava o sistema SIGA,  um sistema informatizado padrão, usado pela maioria dos serviços de saúde no estado de SP. Era um sistema muito prático, o formato do site era bem intuitivo e lá as informações sobre todos os usuários eram armazenadas. Também me falou sobre exames laboratoriais requisitados pelos profissionais da saúde aos usuários, que entregavam os materiais na própria UBS. A unidade então se encarregava de encaminhá-los, ou para um laboratório do governo, ou para um particular contratado. O último setor a ser visitado foi o da vacinação, que tem uma história bem antiga no lugar, e, ao meu ver, uma história bem antiga também no imaginário dos usuários, que estão há muito  acostumados a ver posto de saúde como ‘’posto de vacinação’’.  Um profissional cuidava do lugar, e explicou para mim e para Thaís o calendário oficial de vacinação, seus próprios registros e que também usava o Sistema Siga. Comentou conosco que era um serviço chave, pois, por meio das crianças pequenas, que são constantemente vacinadas por certo período, podia conversar com suas famílias sobre a saúde deles, sobre a situação da carteira de vacinação da mãe, etc..
Foi um dia bem proveitoso, em que pude ver a variedade de serviços que há na Unidade, como todos conseguem ser bem sistematizados, mas não fechados. Que se organizam em esquemas bem padronizados e com procedimentos fixos, mas não esquecem a flexibilidade necessária para que um serviço de saúde que lida com várias pessoas diferentes possa ser o mais abrangente possível. 

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