No dia 8 de Março, fiz a primeira visita de reconhecimento á
UBS. Embora já tivesse ido uma vez, não tinha circulado pelos setores e nem conversado
com os funcionários acerca dos modos que os serviços eram realizados.
O primeiro lugar visitado foi
a farmácia, onde se entrega os medicamentos que constam na lista do SUS aos
pacientes gratuitamente, e, pelo que percebi, onde é possível fazer uma espécie
de controle do uso de medicamentos na assistência de cada usuário, por meio de sistemas
informatizados. Lá, a preceptora Cris nos contou, para mim e a minha dupla, Thaís, do projeto
amplo que está sendo realizado na UBS sobre a violência institucional lá
presente, e a nossa parte em específico, que é a violência contra crianças, com
particular enfoque na violência envolvendo gênero. Confesso que fiquei bem
empolgada, já naquela hora pensamos nas possibilidades de pesquisa,
referências, etc...
Depois, fomos ver rapidamente um grupo, acompanhado por uma
psicóloga, de crianças com problemas na escola. Eram cerca de 10 meninos e
meninas com idade de 8 a 12 anos, aproximadamente. Como infelizmente a visita
foi bem rápida, não pude perceber tanto sobre o grupo, apesar de que, numa
primeira impressão, pareceram crianças aparentemente típicas, com pequenas brincadeiras
próprias de sua idade. Apenas uma delas me chamou a atenção, que acho justo
comentar aqui. Um garoto de mais ou menos 11 ou 12 anos estava com um arranhão
na altura da barriga, e puxava a camisa que estava vestindo, como que para
mostra-lo. Quando a psicóloga perguntou,
em tom de brincadeira, como ele tinha se arranhado, ele respondeu, também rindo
e com olhar convencido, que tinha sido arranhado pelas meninas, pois era
‘’gostoso’’ demais. O diálogo me chamou a atenção pela coincidência com o tema
de nossa parte da pesquisa sobre violência entre crianças, a que envolve
gênero. Pensei que a resposta do garoto era uma boa abertura para conversar
sobre violência entre meninos e meninas, seus significados, suas diferenças, aspectos sexuais dos pequenos
conflitos lúdicos (especialmente nessa idade), etc... O tempo era corrido, mas
de qualquer modo, já fiquei satisfeita em perceber que, a julgar por esse
episódio, as crianças não estarão de todo fechadas para conversar sobre esses
assuntos.
Depois, fomos de carro conhecer o território, mas fomos impedidos
de continuar pela chuva forte. Acabamos vendo apenas a parte mais
economicamente privilegiada do lugar. O que chamava imediatamente a atenção era a gritante a
desigualdade social no lugar, verdadeiras mansões perto de barracos, um colégio
particular caro e enorme contrastando com o colégio público do bairro. Alguns moradores dessas mansões são usuários
cadastrados na UBS, mas são bem poucos, e boa parte deles, funcionários dessas
casas que dormem lá. Era curioso o motorista já ter memorizado quem eram essas
pessoas, suas respectivas casas e até suas profissões, de tão poucos.
Retornamos então á unidade e fui ver o serviço de agendamento
de exames e consultas especializadas. A responsável me explicou que usava o sistema
SIGA, um sistema informatizado padrão,
usado pela maioria dos serviços de saúde no estado de SP. Era um sistema muito
prático, o formato do site era bem intuitivo e lá as informações sobre todos os
usuários eram armazenadas. Também me falou sobre exames laboratoriais
requisitados pelos profissionais da saúde aos usuários, que entregavam os
materiais na própria UBS. A unidade então se encarregava de encaminhá-los, ou
para um laboratório do governo, ou para um particular contratado. O último
setor a ser visitado foi o da vacinação, que tem uma história bem antiga no
lugar, e, ao meu ver, uma história bem antiga também no imaginário dos
usuários, que estão há muito acostumados
a ver posto de saúde como ‘’posto de vacinação’’. Um profissional cuidava do lugar, e explicou
para mim e para Thaís o calendário oficial de vacinação, seus próprios
registros e que também usava o Sistema Siga. Comentou conosco que era um
serviço chave, pois, por meio das crianças pequenas, que são constantemente
vacinadas por certo período, podia conversar com suas famílias sobre a saúde
deles, sobre a situação da carteira de vacinação da mãe, etc..
Foi um dia bem proveitoso, em que pude ver a variedade de
serviços que há na Unidade, como todos conseguem ser bem sistematizados, mas
não fechados. Que se organizam em esquemas bem padronizados e com procedimentos
fixos, mas não esquecem a flexibilidade necessária para que um serviço de saúde
que lida com várias pessoas diferentes possa ser o mais abrangente possível.
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