domingo, 31 de julho de 2011

Grupo de Crianças

Na sexta-feira 29 de Julho de 2011, no período da manhã, pude acompanhar o Grupo de Crianças. Nesse dia poucas crianças apareceram, cerca de 20, devido provavelmente à volta às aulas.
As brincadeiras feitas foram super legais e conseguiram integrar todos que ali estavam. O momento resgatava jogos "antigos" que precisam da participação de todos sem nenhum tipo de exclusão. Acho que isso é importante, principalmente pelo fato de que nos dias de hoje as crianças preferem jogos eletrônicos e que são jogados individualmente.
Apesar de ter sido um momento gostoso e agradável, penso que poderia ser feito de uma maneira diferente, como por exemplo o local ou o horário, pois todos estavam pegando o sol em um horário que não é recomendado.

Além dessa experiência, nesse dia tive a oportunidade de acompanhar o agendamento de consulta da equipe vermelha. Achei bem interessante a estratégia. O que me chamou a atenção foi o fato de estarem marcando consultas para setembro, pois apesar de os casos serem passados por uma "triagem", aguardar até o mês de setembro para uma consulta é esperar bastante.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Atividade Sombra

Na atividade "sombra", acompanhei uma Sra. que havia descoberto ser gestante a 15 dias através do exame de urina, o qual deu positivo. Ela teve a informação da possibilidade desse exame por meio de um agente comunitário que encontrou.

No encontro, ela relatou que veio à UBS JD. D'Abril buscar sua primeira consulta e orientação médica, pois estava sentindo dores que julgava não serem normais.

Foi atendida na recepção e sete minutos depois foi chamada para aferição de controles. Por ela não ter trazido o cartão SUS, foi subentendido pela gestante e por mim que não poderia ser feito o seu cadastro no programa Mãe Paulistana, o que verifiquei mais tarde que tinha uma solução. Podia ser pesquisado na recepção com o número do R.G. ou CPF o seu número SUS, o que foi feito no final da passagem.

Posteriormente à aferição dos controles, nós aguardamos por volta de uma hora e meia para sermos atendidos pelo enfermeiro Guilherme. Acredito que o tempo de espera se torne um ponto negativo, pois se corre o risco da desistência do atendimento pela gestante, o que quase ocorreu. Na conversa com o Guilherme, houve instruções e inforações sobre a gravidez, tal como o tempo e a estimativa da data do nascimento. A gestante também retirou ácido fólico para cerca de 60 dias, tomou vacinas e agendou a sua perimeira consulta com o médico.

Por ter relatado dores anormais gerando desconforto, foi atendida pela Médica Carol, a qual solicitou um exame de urina pela suspeita de infecção. Em seguida, a gestante foi submetida ao exame ginecológico para avaliação.

No geral, houve um bom atendimento, cordialidade e empenho no atendimento, porém, pode-se trabalhar no planejamento do tempo de espera e no treinamento periódico da equipe para cada vez mais melhorar o atendimento à população.

Agendamento de consultas e Reunião do NASF

Nesta quarta-feira, 27, acompanhei como é feito o agendamento de consultas, que ocorre em um dia na semana para cada área. O método utilizado é diferente, a chamada é feita em ordem decrescente de idade, o que evita filas na porta da UBS antes mesmo desta abrir. O agendamento é feito pelo médico, enfermeiro e um auxiliar de enfermagem da equipe. O usuário que quer uma consulta vai até a UBS e fala para o profissional o motivo da sua consulta, dependendo do caso é agendado uma consulta médica ou de enfermagem. Isto faz com que consultas desnecessárias sejam marcadas.

As consultas estavam sendo marcadas para daqui 1 mês, não achei um tempo de espera muito grande, e achei o método utilizado bom pois a consulta já é marcada com o profissional correto, e achei o agendamento é muito rápido.

Depois acompanhei o Enfermeiro Guilherme na demanda espontânea. Os casos que observei tomavam remédio todos os dias, porém não tinham tomado ainda o do dia, e muitos esquecem de falar quais que tomam, é preciso o enfermeiro perguntar se está tomando um certo remédio para o paciente falar. Na consulta de um senhor que estava com a pressão muito alta, e não ia à UBS há 2 anos, o enfermeiro não só reforçou o uso dos remédios mas também orientou sobre a alimentação e atividade física.

Ainda no mesmo dia acompanhei uma reunião do NASF, achei muito interessante a forma com que tratam os casos. Estavam presentes uma psicóloga, um pediatra, um educador físico, uma médica, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem e 5 agentes comunitários.

Nesta reunião eles discutiram alguns casos, a psicóloga e médica falaram de como foi a consulta com algumas pessoas ,e com a equipe toda discutiram quais as opções de tratamento que eles poderiam oferecer. Os casos eram depressão, ansiedade, envolvimento com drogas, entre outros.

A presença dos ACS é fundamental, ele conhece mais a família, então sabe se tal intervenção tem como ser feita nos casos, por ser da comunidade a confiança dos usuários nele é maior, por exemplo um caso que o jovem só admitiu usar drogas para o ACS, e para a médica ele negou.

Ao participar da reunião pude entender um pouco mais como o NASF se insere e como é o seu trabalho na UBS, a reunião é descontraída, cada um dá a sua opinião e é ouvido, para resolver os casos todos pensam em alguma maneira, dão ideias, comentam. Há uma grande interação entre os profissionais e também com os agentes comunitários, as decisões tomadas são em conjunto, sendo realmente um trabalho em equipe.

Conhecendo a UBS e o território/Atividade Sombra

Na semana retrasada, no dia 15/07, os preceptores nos apresentaram a UBS, mostrando onde cada departamento funciona, quais funcionários trabalham em cada um deles e como é o funcionamento geral da UBS.
Além disso, os preceptores nos deram explicações sobre o papel do SUS, qual a importância da ESF para a UBS e para a população do Jardim D'Abril, tiraram diversas dúvidas que eu e meus colegas tínhamos e pudemos discutir diversos assuntos relacionados ao atendimento da UBS.
Depois disso,uma van nos conduziu por grande parte do território de abrangência da UBS, mostrando nítidas diferenças sociais, que eu particularmente já conhecia,pois anteriormente já tinha feito um reconhecimento do Jardim D'abril juntamente com o grupo de trabalho na escola de enfermagem.Esse reconhecimento de mostrou essencial para compreender a população atendida pela UBS e suas necessidades.

Na sexta feira passada, dia 22/07, eu e meus colegas participamos da atividade 'sombra', na qual acompanhávamos um paciente durante todo o tempo que o mesmo permancesse na UBS. Assim, foi possível acompanhar todos os procedimentos necessários para o atendimento do paciente.

Eu acompanhei um senhor de 58 anos, que é diabético há 6. Desde que descobriu seu problema de saúde, fez acompanhamento na UBS e naquele dia foi a uma consulta que estava marcada para as 15 hrs. O paciente chegou por volta das 14h45min, esperou cerca de 20 minutos para o atendimento e sua consulta durou aproximadamente 15 minutos, o que em minha opinião são número muito razoáveis. Particularmente, fiquei impressionada com o pouco tempo de espera que o senhor teve até o seu atendimento e a qualidade de sua consulta,uma vez que o médico foi bastante informal e explicou detalhadamente o que o senhor deveria fazer para melhorar sua qualidade de vida.

A segunda pessoa que acompanhei era uma mulher com seu filho de 6 anos, que tinha uma consulta de rotina marcada com a pediatra. A espera deles para serem atendidos foi ainda menor do que a do primeiro senhor que acompanhei. A mulher e seu filhinho aguardaram apenas 10 minutos para serem chamados pela médica.
Durante a consulta, tudo correu muito bem, a mãe recebeu orientações sobre a dieta do filho, sobre os medicamentos, vacinação e além disso, a criança foi pesada, foi medida sua altura e outros dados importantes foram coletados com a mãe para acompanhar o crescimento do filho.

Achei a atividade sombra muito útil para entender como funciona uma consulta médica e mais do que isso, como funciona a recepção e o atendimento dos pacientes. Algo que já foi anteriormente citado, mas que a pena retomar, é que fiquei surpreendida com a pouca demora para que os pacientes fossem atendidos. Acho válido ressaltar, que como sempre passei em consultas médicas particulares e me acostumei a esperar horas para ser atendida, eu esperava que os pacientes fossem demorar muito mais para serem atendidos, o que não aconteceu.

Acredito que o PET Saúde ainda tem muito a ensinar a mim e meus colegas, e estou achando extremamente interessante e útil as atividades que já realizamos.

Muito obrigado.
Até a próxima!!!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Atividade sombra - dia 22 de julho










Reconhecimento do território e atividade sombra

Na primeira semana de PET, nós pudemos conhecer melhor a UBS Jd. D`Abril, o território e entender um pouco melhor o SUS e a Estratégia Saúde da Família. No reconhecimento do território fica evidente a heterogeneidade do local, onde um lado é ocupado por uma classe social mais elevada e outro é ocupado por pessoas com baixa renda, e de uma classe inferior.

Só de observar as diferenças físicas do território, como por exemplo a aparência da moradia, o material e o ambiente em que esta foi construída, é possível também entender que as necessidades dos indivíduos são distintas.

Já nesta segunda semana, realizamos a atividade sombra. Eu acompanhei uma senhora que chegou na UBS por demanda espontânea. Ela se queixava de dor e ardência no nariz e tosse. Primeiro aguardou 20min até ser atendida pela auxiliar de enfermagem que a atendeu bem, aferiu sua pressão e perguntou quais os sintomas. Depois de aguardar 1h25min foi atendida pela enfermeira que também perguntou os sintomas e receitou um soro para ser aplicado no nariz, porém não achei que ela explicou muito bem como usar o soro, e também percebi uma dificuldade para a paciente entender o que a enfermeira falava e vice-versa. A enfermeira não conseguiu resolver o caso dessa senhora, e a encaminhou para uma avaliação médica, ela aguardou 25min e foi atendida pela médica da sua área, que reforçou o uso do soro, mostrando melhor como usá-lo. A senhora ficou 2h20min na UBS, e seu caso foi resolvido.

Não achei que o atendimento foi demorado, o tempo de espera foi parecido com o de um pronto-socorro particular que utilizo. E também houve uma emergência no meio tempo, o que causou mais demora. Achei o atendimento dos profissionais muito bom.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Assistência de Enfermagem no Puerpério e Atividade "Sombra"

Durante a tarde do dia 19/07 acompanhei o Enfº Guilherme nas Visitas aos recém nascidos e suas mães. As visitas consistiam em uma análise dos bebês e das mães, da saúde, condições e cuidados com o bebê. É o primeiro contato dos dois com o enfermeiro do PSF após o parto (a consulta deve ocorrer em torno de 15 dias após o parto).


A consulta é bem humanizada, porém as famílias apresentam vínculo maior com o ACS do que com o Enfermeiro. As consultas me pareceram bem presas aos protocolos, o que para mim não é algo negativo.


Acho que é uma oportunidade interessante para os participantes do PET, dá pra ter um contato muito próximo com o trabalho de um dos profissionais da equipe da ESF.





Sobre a Atividade "Sombra", do dia 22/07, é mais difícil descrever os casos de cada uma das pessoas que acompanhei.


A primeira era uma senhora muito nervosa que chegou à UBS prucurando pelo Enfermeiro da equipe que atendia sua área, no caso era Guilherme. Ela desejava trocar um curativo feito no braço, por baixo de gesso, que hávia operado por ter quebrado. Ela conversou com Guilherme na recepção. Durante uma conversa ela me disse não conseguir respeitar os horários das consultas para acompanhamento. Quanto à questão de trocar o curativo, esta não pode ser resolvida, a UBS não tem um profissional capacitado para fazer o procedimento e responsabilizar-se por ele.


Ela passou 25 minutos na UBS, desde a entrada até saída.


A segunda senhora que eu acompanhei tinha uma consulta marcada com a médica da Equipe, Ana Paula, para receber os resultados de exames feitos anteriormente. A espera foi muito rapida, em comparação outras consultas que eu tenha conhecido, foram 25 min. Durante a consulta constatei que o vinculo médico-paciente tornou a conversa muito produtiva, fazendo que a consulta ainda que sucinta resolve-se a demanda da paciente.


Porém a paciente não se mostrava interessada em participar dos grupos, para melhorar suas condições de saúde.


A paciente queria mais exames de imagem para acompanhar a evolução de um problema na tireóide, visto que já fazia acompanhamento no Instituto do Câncer Dr. Arnaldo no qual faz os exames a cada 6 meses.


Para mim, os pacientes estão chegando ao serviço sabendo o que querem e desejam usar os profissionais para conseguir o que desejam, desrespeitando ao sistema da UBS.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Desafio

Olá a todos. É claro a diferença social na nossa área de trabalho e os grandes problemas encarados pela população. Acredito que passaremos por muitos desafios e experiências no PET, além de sermos cobrados pela resolução de possíveis situações encontradas. Já no 1º encontro, gostei muito de conhecer e entender um pouco do SUS, PSF, NASF e cia., tinha muita coisa que não fazia idéia.
O PET será uma experiência incrível para todos nós, podem acreditar..!!!

Atividade "Sombra"

Terça-feira – 19/07/2011

            Acompanhei 3 pessoas: uma senhora hipertensa e diabética que fez exame de eletrocardiograma; uma mulher com filha deficiente física e mental que tentou marcar consulta de retorno com a médica da área verde e também tentou pegar remédio na farmácia; e uma mulher cuidando da bebê de 8 meses de sua prima, a criança não mora no território.
           
Na UBS, os serviços prestados são de qualidade, porém parece executar pouco o princípio da equidade. O sistema se mostra bastante inflexível para com quem mais necessita. A mulher com a filha deficiente mora aparentemente em uma área de risco, e tem dificuldade para ir até a UBS e marcar sua consulta de retorno no dia e na hora em que deve ser marcada (área verde), ela passou por uma cirurgia para retirada do útero, devido a um câncer e precisa fazer a consulta de retorno, para saber se esse câncer não se alastrou para os ovários. A recepcionista apresentou-se bastante preocupada para resolver a situação, mas não podia fazer nada.
A outra mulher, com a bebê da prima, que não mora no território da UBS, precisou de uma inalação, prescrita por médico de fora da UBS e pode fazer sem problema algum. Essa mulher aparentemente não mora em área de risco, tem convênio e raramente utiliza os serviços da UBS.
A mulher da área verde, com sua filha deficiente também passou na farmácia da UBS para retirar o remédio (omeprazol) do marido que passou por consulta em outro médico no dia anterior. Ela não conseguiu o remédio, porque a letra do médico na receita estava ilegível, ao invés de estar escrito mês 7, parecia mês 4, e a receita tinha validade de 2 meses.
A senhora que foi fazer o exame foi atendida pontualmente, o exame durou 6 minutos, impresso na hora e anexado ao seu prontuário. Esse procedimento pareceu ser um pouco automatizado e não humanizado. O enfermeiro não pediu licença para levantar a blusa e roupa íntima da paciente e nem ao menos deu feedback do exame.
E por último, a mulher com a criança pra fazer inalação foi muito bem atendida.

Obrigada!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Inicio dos Trabalhos

É muito bom iniciar um novo trabalho, com novos objetivos, a favor de uma Comunidade. E acredito que este seja o intuito do PET SAÚDE na UBS Jardim D' Abril. Reunir a partir da diversidade de um grupo de estudantes e profissionais um conhecimento, e aplicar este para a realização dos Projetos dos Grupos. Isso tudo se voltando para o bem da comunidade.

No dia de hoje, 15 de julho, nossos passos iniciais foram dados, nosso conhecimento começou a tomar forma, ao conhecermos toda a estrutura e funções disponíveis na UBS e ainda o território ao qual estarão focadas nossas atenções às suas necessidades.

E o território? É difícil descrever todas as diferenças, acho que não houve um grande abalo ao ver de perto a diferença social naquele momento, pois já havia conhecido o território em visitas anteriores, durante aulas de uma das disciplinas dadas na Escola de Enfermagem. São gritantes as diferenças nas condições de vida, moradia em cada uma das partes do território conhecido.

Gostaria de terminar agradecendo aos preceptores Caroline, Cristiane, Guilherme e aos outros Funcionários da UBS, que nos receberam muito bem nos apresentaram as funções dos equipamentos presentes no local, e o Território.

Muito Obrigado!

Primeiro texto - Território

 Este texto foi também enviado por e-mail, em formato pdf.

A contribuição do conceito de território para uma gestão socialmente justa da cidade
Carlos Alberto José de Carvalho 1
1 Professor de Geografia do Colégio Equipe e da Escola Vera Cruz, São Paulo. http://www.geo.ggf.br


O movimento de renovação que a Geografia brasileira gerou nas últimas décadas produziu uma ampla rede conceitual que pode e deve contribuir para uma gestão socialmente justa da cidade e de seus recursos, somando esforços para corrigir as injustiças sócio-espaciais que caracterizam a cidade, o país e o mundo.

Neste artigo, procuramos encadear três questões que nos parecem indispensáveis para o entendimento dos territórios da cidade: o que é o território e como é produzido pelos agentes modeladores; como é utilizado e apropriado pelos diferentes grupos sociais e como geri-lo, democraticamente, visando a justiça social.

Territórios da cidade

A territorialização da cidade de São Paulo levada a cabo pela Prefeitura Municipal produziu uma regionalização com 31 territórios bastante heterogêneos entre si. A diferenciação entre esses territórios é expressão da desigualdade sócio- espacial, resultante da lógica que preside a organização da sociedade e a produção de seu espaço. O que explica tais diferenciações é o “fato de que em função da divisão social do trabalho, a cidade é antes de mais nada uma concentração de pessoas exercendo uma série de atividades concorrentes ou complementares,  o que enreda uma disputa de usos” (CARLOS, 2000). A análise do uso do território aponta para duas vertentes contraditórias, o uso produtivo do espaço da cidade, determinado pelas características do processo de reprodução do capital, e o uso residencial, incluindo os serviços essenciais, onde se dá a reprodução da vida social.

O uso do território e o território usado

Ao examinar as necessidades fundamentais e usos do território, podemos distinguir dois pontos de vista: “o do produtor que necessitará de equipamentos de infra-estrutura, de informações, de inovação, de amplas instalações e a do cidadão que se apropria do espaço em função das necessidades inerentes à reprodução da vida: o habitar e o trabalho, incluindo o lazer. Para isso, necessita de equipamentos de lazer, oferta de determinados bens e serviços coletivos, de cultura etc.” (idem).

A contradição entre os interesses do cidadão e das grandes empresas tem sido decidida em favor destas últimas, como se viu repetidas vezes na cidade, pois “a prática da modernização cria, no território como um todo, em particular nas cidades, os equipamentos, mas também as normas indispensáveis à operação racional vitoriosa das grandes firmas, em detrimento das empresas menores e da população como um todo” (SANTOS, 1993). Soma-se a isso os interesses de classes profissionais, de bairros, de tipos de proprietários, de grupos étnicos, de gênero, de opção sexual e, assim, temos como resultado a cidade corporativa de que fala Milton Santos, onde cada qual busca a satisfação de seus interesses corporativos, enfraquecendo as lealdades coletivas e impedindo a afirmação de sentido de comunidade, o que complica o exercício da cidadania e da democracia.

Direito à moradia digna

Num território onde a localização dos serviços essenciais é deixada à mercê da lei do mercado, tudo colabora para que as desigualdades sociais aumentem. (SANTOS, 1998)

Habitar é a necessidade primária e inadiável de qualquer indivíduo, empresa ou instituição. De fato, moradia digna é um direito fundamental garantido pelo artigo 6 da Constituição Federal, definida no parágrafo único, do artigo 79, do Plano Diretor Estratégico do Município, como “aquela que dispõe de instalações sanitárias adequadas que garantam as condições de habitabilidade, e que seja atendida por serviços públicos essenciais, entre eles: água, esgoto, energia elétrica, iluminação pública, coleta de lixo, pavimentação e transporte coletivo, com acesso aos equipamentos sociais básicos.” Entretanto, esse direito à moradia
digna é negado para mais de um milhão de moradores da cidade.

A produção de moradias em São Paulo produziu todo tipo de irracionalidade. A cidade abriga precariamente mais de um milhão de pessoas em 286.954 domicílios favelados, ao passo que 420.327 domicílios permanecem vazios, segundo o Censo 2000 do IBGE. O que explica a indiferença da sociedade a essa realidade é a ampla aceitação das desigualdades no acesso aos bens e serviços produzidos socialmente. A moradia é um desses bens, cujo acesso é controlado pelo mercado.

Aos agentes do mercado interessa unicamente a demanda daqueles que podem pagar; nesse sentido, as moradias dignas constituem um privilégio dos indivíduos endinheirados, ao passo que as precárias são produzidas para aqueles que foram excluídos do mercado, ou melhor, incluídos precariamente, apenas pelo consumo dos insumos básicos da indústria da construção civil. As moradias precárias não oferecem qualquer segurança, pois “os pobres
nem mesmo permanecem nas casas que fazem ou que lhe fazem. E não podem manter por muito tempo os terrenos que adquirem ou lhes dão, sujeitos que estão, na cidade corporativa, à lei do lucro” (SANTOS, 1998). Assim ocorreu com a população negra que vivia em cortiços no Bexiga, em bairros como Casa Verde, Limão, Vila Prudente, Ipiranga, Vila Formosa, expulsas e isoladas que foram nas periferias longínquas como Cidade Tiradentes, a versão paulistana da célebre Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.

O território entre o lugar e global

Cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor, consumidor,
cidadão, depende de sua localização no território. (SANTOS, 1998)

O conceito de lugar é outra categoria geográfica fundamental para a compreensão do território. E é a partir de seu exame que se poderá tomar a complexidade das condições de vida dos indivíduos e dos lugares onde eles vivem como ponto de partida das políticas públicas (KOGA, 2003).

Para o entendimento dos lugares, tanto em sua situação atual como em sua  evolução, precisamos considerar o eixo das sucessões e o eixo das coexistências,(SANTOS, 2002), isto é, há que se ter em mente os eventos que atuaram sobre o lugar no suceder do tempo (tempo histórico) e os eventos coincidentes que são vividos em comum a cada instante (tempo como simultaneidade). Os eventos não atuam isoladamente, antes, constituem um complexo sistem de ações sociais que se desenrolam no tempo (histórico) e no espaço (simultaneidade).

Mas de onde partem as decisões que (des)configuram o lugar?

No período atual, o mundo é organizado em subespaços articulados dentro de uma lógica global (SANTOS, 1988), comandada por um motor único, a globalização. Tal articulação realiza-se por meio das redes2 que atuam seletivamente sobre o território, incorporando e modernizando determinados lugares no espaço geográfico. Em razão disso, os eventos são um produto do mundo e do lugar ao mesmo tempo; ainda que a decisão possa ter sido tomada em outro continente, a ação concretiza-se no lugar.

De onde parte a reação aos efeitos perversos da globalização, senão do próprio lugar? Para compreender a força do lugar diante dos processos de mundialização, tem-se buscado sua compreensão como a dimensão espacial do cotidiano. Amélia Damiani aponta dois sentidos na noção de lugar: “o de diferente, em relação aos lugares e ao mundo. O embate e a combinação que definem cada um. Outro é o da particularização, aquilo que separa esse lugar do outro: a segregação”. (DAMIANI, 1999).

Assim, é no decorrer de seu processo de construção que no território se imprimem diferentes marcas e características que diferenciam os lugares entre si, o que lhes confere uma particularidade, para a qual também os “costumes, os valores, as tradições são elementos que, no seu conjunto, estruturam a identidade de um lugar” (CALLAI, 2002) e, em outro sentido, levam à segregação imposta ou auto-imposta.

Quais são os novos significados do lugar no mundo atual?

A chave para o entendimento das metamorfoses do lugar pode ser buscada nas relações vividas em comum pelas mais diversas pessoas, empresas e instituições reunidas num dado  lugar. Pois é aí, onde o “cotidiano, como conjunto de atividades e relações, efetua-se num espaço e num tempo sociais: o lugar e suas temporalidades” (DAMIANI, 1999).

O cotidiano não é sem importância por se tratar de ações repetidas. Ao contrário, sua importância advém justamente por ser o local onde a ordem se impõe com toda a sua força. “Apesar das diferenças, o cotidiano se repete em mais de um lugar. Ele é a ordem do mundo, do Estado no lugar, atingindo a base desse lugar” (idem).

Em razão disso, a sociedade não se transforma sem alteração no cotidiano,  assim como pequenas mudanças no cotidiano podem transformar a sociedade.

A transformação social é possível porque o cotidiano não é apenas repetição, é também o lugar do novo, do inesperado. E como um evento nunca ocorre isolado, podemos esperar que uma ação inédita de um determinado ator social (engendrada num determinado contexto) possa desencadear transformações mais abrangentes, em sinergia com as ações de outros atores.

O cotidiano será, um dia ou outro, a escola da desalienação. (SANTOS, 1998).

2 Milton Santos ensina que as redes tanto têm uma existência material, que permite circular matéria, energia, informação e pessoas, quanto uma existência social e política, pelas mensagens e valores que as freqüentam.

A territorialidade e a apropriação do território

A interação entre homem e espaço é sempre uma interação entre seres humanos mediatizada pelo espaço. (RAFFESTIN, 1993, citado por SOUZA, 2000).

Para entender as estratégias que os grupos sociais geram para se apropriar do território, há que seguir a assertiva de Marcelo Souza quanto aos territórios serem antes relações sociais projetadas no espaço que espaços concretos, os quais são apenas os substratos materiais das territorialidades (SOUZA, 2000).

Como cada grupo social se apropria do território? O conceito de territorialidade refere-se às relações de poder espacialmente delimitadas e operando sobre um substrato referencial (idem). As instituições, as empresas e os mais diversos agentes sociais desenvolvem suas próprias estratégias de apropriação do território, suas territorialidades, freqüentemente justapostas sobre o mesmo espaço social, em razão do que explodem os conflitos.

Em sua forma reacionária tem-se o territorialismo, idéia derivada da territorialidade, em que o controle territorial é um imperativo para os grupos sociais, que assim promovem o fechamento do espaço social, recusando o acesso do outro. Os bairros da elite econômica apresentam alto grau de territorialismo; em muitos casos, seus limites são demarcados por muros, o acesso é controlado por agentes de segurança privada, a circulação é monitorada por circuitos fechados de TV e seus habitantes circulam de carros blindados.

Assim, procede-se a uma blindagem dos lugares que abrigam os indivíduos abastados da cidade. Mas também em bairros populares reproduzem-se seus próprios territorialismos.

Embora o brutal controle exercido sobre as favelas por grupos criminosos seja mais evidente no caso da cidade do Rio de Janeiro, o fenômeno repetese em outras capitais brasileiras, particularmente em São Paulo, onde o crescimento das favelas quadruplicou nos últimos 20 anos, totalizando 2.018 núcleos favelados que abrigam 1.160.590 de pessoas, segundo dados da Secretaria da Habitação (2000).

O território como disputa entre grupos antagônicos tem levado à desterritorialização
dos mais fracos.

A desterritorialização e a produção de aglomerados de exclusão

A desterritorialização, como inverso da territorialização, se produz no processo de desapropriação do espaço social, tanto do ponto de vista concreto como do simbólico. Lugares são desconectados dos circuitos integradores da sociedade capitalista: mercado de trabalho, consumo e cidadania. O resultado da desterritorialização é a multiplicação dos aglomerados de exclusão. Trata-se, segundo Rogério Haesbaert, de “espaços sobre os quais os grupos sociais dispõem de menor controle e segurança, material e simbólica”, lugares onde se produz o “anonimato, a anulação de identidades e a ausência praticamente total de autonomia de seus habitantes” (HAESBAERT, 2000).

Durante a década de 90, o aumento de moradores em habitação precária – favelados, encortiçados, residentes de domicílios improvisados e moradores de rua – foi maior que o crescimento da população total da cidade3.

A cidade contém diversos aglomerados de exclusão que podem ser classificados como transitório ou conjuntural, “por se encontrar atravessado por múltiplas redes ou territórios, recompõe constantemente o seu espaço, reinserindo  seus membros numa ordem dominada pela violência e pelo medo, geralmente de caráter ilegal ou clandestino, como ocorre algumas vezes nas favelas brasileiras subordinadas ao circuito do narcotráfico”. (HAESBAERT, 2000).

Em muitos desses lugares sobrepõem-se vários territórios e redes, do narcotráfico, dos presídios do Estado, conectados pelas centrais telefônicas clandestinas do PCC, das gangues de skinheads, das diversas torcidas organizadas, dos batalhões da Polícia Militar, das DP’s da Polícia Civil etc., o que faz do aglomerado de exclusão um território permanentemente contestado.

A gestão local democrática do território
A gestão local do território se faz em meio a uma complexa rede de relações que envolve diferentes grupos sociais, cada qual com seus interesses particulares e estratégias específicas.

Ainda que diferentes grupos sociais se apropriem do território (territorialização), apenas alguns deles são efetivamente modeladores do territórios. Para Roberto Lobato Corrêa (1989), o “espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de  lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato”. Mas afinal, quem produz o espaço urbano? Quais são seus interesses? Como atuam para atingir seus objetivos? Corrêa descreve as estratégias e as ações concretas dos agentes modeladores do espaço urbano:

a) os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais, são grandes consumidores de espaço;
b) os proprietários imobiliários atuam no sentido de obterem a maior renda fundiária possível de suas propriedades;
c) os promotores imobiliários formam um conjunto de agentes que realizam as operações de incorporação, financiamento, estudo técnico, construção do imóvel e comercialização. Atuam no sentido de produzir habitações para a população que constitui a demanda solvável;
d) o Estado atua como grande industrial, proprietário fundiário, promotor imobiliário, agente de regulação do espaço e o alvo dos movimentos sociais urbanos. Mas é como provedor de serviços públicos que sua atuação é mais corrente e esperada;
e) os grupos sociais excluídos têm como possibilidades de moradia os cortiços localizados próximos ao centro da cidade, as casas produzidas pelos sistemas de autoconstrução em loteamentos periféricos, os conjuntos habitacionais produzidos pelo Estado, além da favela.

Das alternativas, as três primeiras exigem uma vinculação a um agente social, o que impede a essa população de se constituir em agente modelador do espaço urbano. É na produção da favela que os grupos sociais excluídos produzem o seu próprio espaço, mais que uma estratégia de sobrevivência, uma forma de resistência às adversidades.

A complexidade do território revela-se na existência de inúmeras interações entre agentes sociais, pautadas que são tanto pela cooperação como pela competição.

O território como campo da política

Quem tem poder de mudar o território? Se entendemos pela palavra poder o sentido dado por Taylor & Thrift, a capacidade de uma organização para controlar os recursos necessários ao funcionamento de uma outra organização (SANTOS, 2002), o Estado continua a ser o instrumento preferencial dos agentes que desejam interferir na gestão do território.

A gestão democrática do território requer dos gestores uma visão distinta da política, mais no sentido atribuído por Alain Peyrefitte, isto é, a política como a mobilização das energias individuais em torno de um objetivo comum, do que um fim em si mesmo. É a partir dessa compreensão da política que se abre a possibilidade de participação dos diversos movimentos sociais urbanos, mesmo distintos entre si, de virem a ser forças da mudança por meio de uma sinergia transformadora, com reais possibilidades de provocar alterações no território e na sociedade.

A autonomia das coletividades é outra condição para a transformação social. De fato, o controle significativo sobre o seu espaço vivido – o lugar – é decisivo para a transformação dos indivíduos em cidadãos e para a mobilização por um genuíno desenvolvimento (SOUZA, 2000).

A formulação das políticas públicas com foco no território deve ter como finalidade corrigir a extrema desigualdade sócio-espacial. Isso é quase um princípio para a ação, conforme enunciava o professor Milton Santos: “uma política efetivamente redistributiva, visando a que as pessoas não sejam discriminadas em função do lugar onde vivem, não pode, pois, prescindir do componente territorial. É a partir dessa constatação que se deveria estabelecer como dever legal – e mesmo constitucional – uma autêntica instrumentação do território que a todos atribua, como direito indiscutível, todas aquelas prestações sociais indispensáveis a uma vida decente e que não podem ser objeto de compra e venda no mercado, mas constituem um dever impostergável da sociedade como um todo e, nesse caso, do Estado” (SANTOS, 1998).

Afinal, o que está em jogo? O próprio cidadão está ameaçado.

“Mais do que um direito à cidade, o que está em jogo é o direito a obter da sociedade aqueles bens e serviços mínimos, sem os quais a existência não é digna. Esses bens e serviços constituem um encargo da sociedade, através das instâncias do governo, e são devidos a todos. Sem isso, não se dirá que existe o cidadão” (idem).

E vazio de cidadãos, o território é usado e abusado pelos fortes.


Referências bibliográficas
CALLAI, H. C. “Estudar o lugar para compreender o mundo”. Ensino de Geografia:
práticas e contextualizações no cotidiano. In: CASTROGIOVANNI, A. C. (org.) pp.
83-134. Porto Alegre: Mediação, 2002.
CARLOS, Ana F. A. “Apresentando a metrópole na sala de aula”. A geografia na sala
de aula. In: CARLOS, A. F. A., (org.) São Paulo: Contexto, 2000.
CORRÊA, Roberto L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.
DAMIANI, A. L. “O lugar e a produção do cotidiano”. In Novos caminhos da
geografia, São Paulo: Contexto, 1999.
HAESBAERT, R. “Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão.”
Geografia: conceitos e temas, In: CASTRO, I. E., GOMES, P.C.C., CORRÊA, R.L.
(org.) pp.165-205. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
KOGA, Dirce. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. São
Paulo: Cortez, 2003.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.
________. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.
________. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1998.
________. A natureza do espaço: tempo e técnica, razão e emoção. São Paulo: Edusp,
2002.
SOUZA, Marcelo. J. L. “O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento”.
Geografia: conceitos e temas. In: CASTRO, I. E., GOMES, P.C.C., CORRÊA, R.L.
(org.) pp. 77-116. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
Ciclo de Atividades com as Subprefeituras 65__

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Criação do blog do PET Saúde Jd. D´Abril

Olá, pessoal!

Decidimos criar este blog para deixarmos registrados aqui nossa experiência e aprendizado durante nossa jornada no PET Saúde deste ano.
Sejam bem-vindos, e aproveitem bastante este espaço e a vivência na Atenção Primária!

abraço,

Preceptores
Ana Paula
Caroline
Cristiane
Guilherme
Kamila
Mariana